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Milhares de jovens arquitectos partem todos os anos para uma corrida ao trabalho que teima em piorar com toda a crise económica actual. Crise esta que, além de dificultar o trabalho destes jovens, dificulta o trabalho de grandes arquitectos que mostram a sua arte a todo o mundo. 

O talento dos arquitectos pode estar a ser renegado por esta crise, o que faz com que estes partam para fora do País, onde tentam ser bem sucedidos. Esta partida pode tornar-se num ponto positivo, visto que pode ser uma via para espalhar o nosso talento a outras partes do mundo.

Mas não deveria ser o nosso próprio País a dar valor ao nosso trabalho? Não deveria ser o nosso País a dar-nos uma hipótese de mostrar o que realmente valemos? Não deveria ser o nosso País a receber-nos de braços abertos, sabendo que podemos valorizá-lo com o nosso trabalho? Acabamos o curso e estamos prontos para dar tudo o que temos, toda a capacidade de trabalho, toda a vontade de aprender mais e mais todos os dias, vontade de nos sentirmos preparados para o mundo do trabalho. Apesar da nossa vontade, não é aqui, em Portugal, que a podemos mostrar, não é aqui que nos dão oportunidade, não é aqui que nos dão valor. Até os arquitectos de grande nome português são primeiro reconhecidos fora do País e só mais tarde no seu país de origem. Não deveria ser o contrário? 

Esta crise afecta todos, afecta a arte, afecta a nossa arquitectura. Afecta o espectáculo que esta nos apresenta, afecta as sensações que nos provoca. Actualmente, será possível fazer grande arquitectura, sabendo que não há recursos suficientes para o seu sustento? Estará comprometido este “espectáculo” num futuro próximo? 

Poderá ser que, com esta crise, surjam novos conceitos, novas ideias, novos paradigmas e experimentações que ajudem a contornar todas as dificuldades que se apresentam. Serão usados novos modos de gestão de recursos, em que não sejam necessárias quantidades exorbitantes para fazer arquitectura, serão criados novos princípios projectuais. Os grandes arquitectos poderão renovar os seus métodos de trabalho juntamente com as suas equipas e, assim, criar obras ainda maiores e mais reconhecidas que as anteriores. 

Quem sabe? Quem sabe se, no meio da crise mundial, não nascerá na arquitectura uma vertente ainda mais grandiosa, com melhor uso dos recursos que existem no mundo. Construindo, assim, a baixo custo, dando oportunidade a todos de usufruírem de uma nova arquitectura; usando materiais mais económicos mas sem deixar de lhes atribuir a beleza que daríamos anteriormente.

Penso que cabe aos jovens criar uma nova etapa, uma melhoria de vida, um futuro mais promissor. No fundo, os novos arquitectos devem visualizar as cidades e, do que elas oferecem, tirar o melhor partido.

Com o passar do tempo, assistiu-se a uma fuga das pessoas para as periferias das cidades, deixando que os seus centros históricos morressem esquecidos com o tempo. Cabe ao jovens arquitectos reabilitá-los, projectando e idealizando de modo a que estes centros históricos sejam acessíveis a todos.

A população está cada vez mais envelhecida, e os grandes centros de comércio deixarão de ter “sucesso”, pois a mobilidade das pessoas diminui com o avançar da idade, o que provoca uma desistência da sua parte a frequentarem estes espaços. 

É importante fazer com que as pessoas voltem às zonas históricas e que, aqui, o comércio renasça dando dinamismo e vivência às cidades. É o comércio que mais chama pessoas. Estas procuram espaços onde viver em que se sintam confortáveis e que tenham os recursos de que necessitam diariamente perto de si.

Por que não reabilitar uma cidade também para os jovens? Não são estes as mentes promissoras de um futuro melhorado? Não são estes que reavivam e dinamizam uma cidade?

Partindo do princípio que os jovens arquitectos possam projectar para os jovens dos dias de hoje, os primeiros podem idealizar um modo de vida mais económico e benéfico, tanto para o humano como para a natureza. Se projectarmos de forma a que uma pessoa, no seu quotidiano, não necessite de utilizar o seu carro para ir tomar café ou comprar o jornal, já se reduzem os custos de cada um, o que leva a uma redução geral. 

Com isto, melhoramos “a nossa” natureza, poupando-a da poluição que há tantos anos a fazemos suportar e contornamos as dificuldades que surgiram com a crise económica mundial. Podemos considerar isto como sacrifícios, mas não serão estes sacrifícios que nos beneficiam num todo? Não será melhor projectarmos uma maneira diferente de viver, que nos faça superar os obstáculos com que nos deparamos?

É importante revitalizar as cidades para que nem estas nem as suas histórias fiquem esquecidas no passado. 

Nós, jovens, somos capazes de dar vida a uma rua deserta e, com sorrisos e gargalhadas, podemos chamar, de novo, as pessoas ao local em que um dia viveram. Pessoas estas que abandonaram a sua zona de conforto à procura de uma vida melhor. Nós, jovens, somos capazes de lhes dar essa vida melhor, reabilitando o que um dia foi delas.

Sei que são muitos os arquitectos que se formam neste País. Sei as dificuldades que enfrentam para tentar arranjar trabalho. Sei que o que nos ajuda hoje é imigrar para países emergentes que necessitam de construção. Mas quem sabe se não haverá arquitectos que consigam por cá ficar, não vejam e sintam o mesmo que eu, e tentem dar, mais uma vez, vida às zonas antigas da cidade.

Esta crise pode tornar-se numa revolução de ideias.|


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